Bruno Canato

Minhas dicas são três grandes pontos:

1. Qualidade, não quantidade
Quando alguém inexperiente chega com um portfólio ou resposta de um teste, parece que a tendência natural é tentar encantar o entrevistador com várias e várias telas. O entrevistador, assim como o cliente, costuma ter menos interessante pelo zilhão de telas e mais pelas telas centrais que contam a proposta de valor. Quando estava dando aula na PUC, eu falava “não se preocupem com todas as telas pro conceito – peguem o que é analgésico e o que é gerador de ganho no canvas de proposta de valor e traduzam isso pra interface!” Acho que isso é verdade. Quando eu tenho a chance de ver o canvas, questiono isso. Quando pego o resultado da pesquisa, também. Tanta coisa fica “Lost in translation” e eu acho que como entrevistador e professor e chefe é esse buraco que mais me machuca.

2. Processo é bom, mas nem tanto
Sou o primeiro a advogar pelo rigor. Mas eu acho interessante num portfólio a gente tomar alguns cuidados. Eu tenho super interesse em saber como alguém achou um usuário super raro ou lidou com a completa falta de acesso. Mais ainda em saber como a pessoa fez para se recuperar de um tombo em um projeto – eles acontecem, fazem parte e a galera realmente boa fez isso de monte na vida. Agora, se você for me explicar que fez o double Diamond… Coisas genéricas do processo, realmente, não preciso saber.

3. Mostre que entende do que está falando
Esse ponto dá um nó. Eu brigo muito nedsse ponto porque acho que é onde muitos projetos dão ruim. Acho que com essa vida de UX e Product e sei lá estamos cada vez mais propensos a mergulharmos nos problemas, nas engrenagens da operação (e colocar uma chave de fenda pra travar o que já não funcionava…). Sinto que as pessoas olham bastante o lado “humano” – os usuários – e isso é válido. Mas sinto que falta elas entenderem de operação, processo, de como as empresas funcionam. De como é um call center. Um aluno de um curso dificilmente tem como fazer isso, mas já entrevistei designers plenos e sêniores que estavam dentro de empresas e não sabiam patavinas do que estavam projetando. Estavam tranquilos assim, porque tinham que colocar boas experiências na rua… Mas como fazê-lo sem este conhecimento?


Bruno Canato é UX & Strategy Director na Try Consultoria e Pesquisas